Rodrigo Lara Mesquita, idealizador da rede social 100% Brasileira a PEABIRUS, escreveu um artigo sensacional, com o titulo deste deste blog para o Jornal O Estado de S. Paulo
Com reflexões inteligentes, Mesquita interpreta que a rede mundial acaba com demarcações geopolíticas e instala a cidadania global e o capitalismo digital.
Mesquita que não é um Internet Boomer ou um webnative, faz um comparativo com a minha querida São Paulo de 50 anos atrás, infinitamente menos contrastante, dramática, fragmentada, diversa e complexa.
Faz uma análise da solidão digital Você podia sentir a solidão, a ansiedade por não se sentir parte de algo, que ronda todos nós. O excesso de objetivo que não seja monetário, o imediatismo, a cultura da esperteza, a competitividade ao extremo.” Conclui Mesquita!
Inovação, tecnologia, Alan Grespan, resistências nacionalistas, capital e mundo digital, está tudo lá no artigo! Vale a pena ler, aproveite! Veja a integra do artigo de Rodrigo Lara!
Domingo, 18 de maio de 2008.
O Estado de S. Paulo
Carta a um amigo conservador
Não sou, caro, um fanático da rede. Mas é o fim das demarcações geopolíticas que fará a cidadania global.
Entendo que a sociedade contemporânea convive hoje, como sempre ocorreu em outros períodos da nossa história, com estruturas e costumes do passado. Estruturas que remontam ao feudalismo e até mesmo a épocas mais remotas. Mas o que manda, o que dá o tom e forma o trend social, econômico e político são as dinâmicas do futuro e não do passado. Isso, no nosso caso, significa o capitalismo entremeando-se na rede.
Alvin Toffler, criticava a miopia da campanha de todos os candidatos à presidência dos Estados Unidos, apontava que o industrialismo foi superado pela área de serviço e o início da estruturação da chamada economia do conhecimento em 1956.
Na estruturação da família, nos relacionamentos dos jovens, com novos conceitos de sexo, raça e idade, novas estruturas familiares e novas formas organizacionais e culturais. Enfim, um novo mundo que, segundo ele, ainda não entendemos e não sabemos para que direção caminha.
Hoje vivemos numa estrutura social que não contribui ou contribui muito pouco para o desenvolvimento da cidadania e da solidariedade, para falar só de dois conceitos básicos para a civilização. Não era assim na São Paulo de 50 anos atrás.
Naquela época, o ambiente era mais favorável para provocar e fortalecer relacionamentos na sua rua, na quadra, no bairro. Não dava medo andar nas ruas, não era banal ser assaltado ou seqüestrado a qualquer momento. Não havia um contaste tão dramático entre o centro e a periferia e a sociedade paulistana era infinitamente menos fragmentada, diversa e complexa.
A peça Fala baixo se não eu grito, hoje é sobre a profunda solidão da alma humana. Você podia sentir a solidão, a ansiedade por não se sentir parte de algo, que ronda todos nós. O excesso de objetivo que não seja monetário, o imediatismo, a cultura da esperteza, a competitividade ao extremo.
News in the Future, em pouco menos de 10 anos evoluiu para Information: Organized e depois Simplicity.
Tenho estes estudos comigo, meu caro amigo. Posso lhe dar uma cópia se você tiver interesse.
Sobre Comunicações – “As comunicações estão prestes a se tornar características pessoais e embutidas no mundo que nos cerca. As novas tecnologias nos permitem construir dispositivos com e sem fio, que são cada vez mais instalados e presentes, praticamente sem limites. Não precisam de um backbone ou infra-estrutura para funcionar. Ao invés disso, utilizam vizinhos para improvisar tanto a distribuição de bits como a geolocalização. Isto redistribui o domínio das comunicações, de um provedor integrado verticalmente, para o usuário final ou dispositivo final, segregando a distribuição de bits e os serviços. As comunicações podem se tornar algo que você faz, ao invés de algo que você compra.”
De Andrew Lippman e David P. Reed, pesquisadores do laboratório de mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o Media Lab.
Sobre Inovação – “O processo de inovação, muitas vezes, ocorre em ondas, quando os ambientes social e econômico sincronizam-se em torno de uma oportunidade criada pela tecnologia. Isto ocorreu na década de 1930, com o telefone, na década de 1950, com o automóvel, e na década de 1980, com o computador pessoal. O setor de comunicações está face a uma ruptura semelhante. Assim como no passado, gigantes verticalmente integrados, amarrados a tecnologias e serviços centralizados ou de grande porte, estão sendo suplantados por novatos armados com novas idéias sobre propriedade individual, adoção incremental e rotatividade instantânea. A tecnologia permite esta mudança, tornando a inteligência local mais barata; a sociedade transforma esta capacidade em algo que lhe é útil; o potencial para investimento econômico difuso estimula novas opções.”
Também de Andrew Lippman e David P. Reed.
Informação de broadcast (ou seja: só ida, sem interatividade).
É um serviço de informação e ponto. Outras vezes, é por burrice, ignorância, arrogância e outros bichos desta espécie.
PS: Você já leu o livro do Alan Greenspan, Na era da Turbulência? Vale a pena, de certa forma ele dirigiu os rumos da economia mundial durante 19 anos. Logo no primeiro capítulo faz uma síntese dos impactos da recente e avassaladora evolução das tecnologias de informação e comunicação sobre a sociedade contemporânea e especialmente a economia norte-americana: “Nas últimas duas décadas, a economia americana se tornou mais resiliente a choques. A desregulamentação dos mercados financeiros, a maior flexibilidade dos mercados de trabalho e, mais recentemente, os grandes avanços das tecnologias de informação aumentaram a nossa capacidade de absorver rupturas e de nos recuperarmos do choque.”
Como se vê, meu caro amigo, a sociedade global em formação iniciou seu processo de superação dos Estados Nacionais através da integração acelerada da comunidade financeira internacional. A primeira mercadoria a se globalizar totalmente foi o capital, em função do contínuo desenvolvimento do comércio e, como conseqüência, da exponenciação dos processos de interação social que a rede permite e fomenta. O ciclo industrial é apenas um desdobramento deste processo iniciado no século 15.
Este processo irreversível reproduz-se analogamente em todos os aspectos da atividade humana, ampliando exponencialmente nosso referencial cultural. Mas só atingirá o apogeu do seu ciclo quando for capaz de superar as resistências nacionalistas, representadas pelas demarcações geopolíticas. Quando isso for alcançado, aí sim a cidadania será global e estaremos vivendo numa nova sociedade.
Rodrigo Lara Mesquita é jornalista. Atua hoje na rede social PEABIRUS.