Suzana Apelbaum é uma artista! Ela sapateia, faz teatro e coleciona leões de Cannes. Na Caravela digital que aportou trazendo os primeiros colonizadores deste maravilhoso novo mundo, ela estava lá. Naquela época fazia banner e botões, hoje ela é a genia por tráz de campanhas digitais que conquistam o mundo.
Um dia fomos ao teatro e com seus pensamentos de gênia criativa ela começou a me contar sobre a Jade! Assim ela profetizou
“Gil, lembra da Jade? Novela das oito? Então. É justamente dela que eu não vou falar. Eu vou te contar da Jade que hoje tem 10 aninhos e vive uma realidade que em nada lembra os padrões da Rede Globo.
Conheci a Jade quando fui visitar uma amiga, mãe dela. Sentamos diante do computador para ver, on-line, um projeto que fazemos juntas. Ao conectar, notei um movimento curioso da Jade. Um certo frisson.
Entre um comentário e outro do trabalho, precisei entrar num portal para ver uma informação, e arrisquei: “Jade, entra para mim nesse site, por favor?”. Não deu outra. Em 2 segundos já estava lá. Impressionante a rapidez da digitação. Por mais que eu já soubesse da habilidade dessa geração, foi impressionante ouvir aquele barulhinho das teclas disparando.
Logo apareceu um pop up. Ela fechou irritada e esbravejou: “Pô, mãe! Você desabilitou o bloqueador de pop up?!!”. Falou assim mesmo.
Fiquei tensa. Entendi que eu tinha muito a aprender com ela e assumi uma conversa
– Jade, você usa muito a internet?
– Uso.
– Todo dia?
– É.
– O que você faz na internet?
– Eu entro no messenger, leio e-mail e jogo game.
– Que jogo você costuma jogar?
– (De uma tacada só) Bomb Jack, Bubble Trouble, Mario, The Sims, Roller Coaster e Madagascar.
– Quando você se empolga, você costuma ficar quanto tempo jogando?
– Não sei …(Ela pergunta para a mãe e volta com a resposta) . Umas 4 horas.
– E TV, você vê muito?
– Não.
– Você fica mais na internet do que na TV?
– Muito mais.
– E quando você tem que fazer uma pesquisa para a escola, você usa alguma enciclopédia?
– O quê?
– Você usa enciclopédia?
– Não sei, acho que não.
– Você sabe o que é enciclopédia?
– Mais ou menos.
(Eu explico e depois pergunto) Então quando você precisa pesquisar alguma coisa para a escola, como você faz?
Eu uso o Google, ué.
E música, você costuma baixar MP3?
Ahã.
Da internet para o celular?
Não, só do computador para o iPod.
E cinema, você costuma usar a internet para ver o trailer dos filmes?
Não. Só para comprar ingresso.
espirei fundo. Era fofo a Jade falando aquilo tudo, mas ela me lembrou uma história que me incomodou.
Recentemente, uma amiga minha deu de presente para a sobrinha uma boneca de pano linda. A menina pegou a boneca, sorriu, mexeu no vestidinho, revirou ela toda. “Gostou, Bia?” . “Gostei! Mas onde liga?!!”
É, a tecnologia chegou num ponto que dá bode. Mas essa mesma história me remeteu a uma outra. Era o aniversário da filha do Pedro, meu ex-chefe. Já passava de onze da noite e a menina estava no messenger. Ele disse: “Filha, está tarde. Desliga esse computador e vai dormir, por favor.” E ela: “Mas pai, é que meia-noite é meu aniversário e meus amigos vão fazer uma festa para mim, pelo messenger. Eles já começaram a puxar o parabéns e, daqui a pouco, vão me mandar um monte de ícone de bolinho!” Claro que naquele dia ele não resistiu e deixou a filha dormir mais tarde. Legal. Essa história é mais compensadora.
Bom, findos os devaneios, resolvi sair da conversa e fechar os assuntos do projeto. Mas a essa altura a Jade já tinha a minha confiança e resolveu me mostrar os sites onde ela costumava jogar. Nove rodadas depois, ela me deixou ir embora. Fomos juntas até a porta. Quando chegou na calçada, viu o meu carro estacionado e gritou: ”Mãe, mãe, olha! Ela tem um C3! Posso ver por dentro??”
Juro que ela falou isso. Caramba. Olha só esse novo consumidor que nos aguarda. Quanta vontade. Quanta munição.
Definitivamente, os anunciantes que continuarem falando com as Jades e Bias da mesma forma que falavam com as Suzaninhas, estão lascados.
A boa notícia é que essas mesmas ferramentas do novo consumidor também podem ser usadas pela publicidade. Elas são as nossas novas armas.
A questão agora é saber usar essas ferramentas. Hoje estamos aprendendo. Aqui no Brasil acho que ainda erramos mais do que acertamos, em função de um comportamento criativo que é padrão há muitos anos.
Mas o mais legal é que vem aí a nova geração de publicitários. A geração que já nasceu acostumada a ler e-mail enquanto fala no messenger, atende o celular e procura alguma coisa num site.
No raciocínio desses novos criativos, qualquer frase pode ter um link, um aprofundamento. Tudo é interligado. Nada é linear. Nada é simplesmente começo meio e fim, como os tradicionais filmes de 30 segundos.
Isso tende a tornar a publicidade muito mais interessante. Ou, no mínimo, mais eficiente.
Vou torcer para que a Jade vire publicitária. Mas ela disse que, quando crescer, vai ser administradora de empresas. Ela quer administrar a Disney. Os brinquedos, os filmes, o canal Disney. Do jeito que ela é determinada, é capaz de conseguir. Tudo bem, ela não vai virar publicitária. Mas pode virar cliente. Melhor ainda 😉
Ps: Su, um beijo no coração e obrigada por nos fazer ler de forma tão simples o Mundo.com