Matéria escrita pela jornalista Renata Honorato para a coluna “Vida digital” da Revista Veja. Mais detalhes aqui
O Facebook anunciou nesta quarta-feira que atingiu a marca de 500 milhões de usuários em todo o planeta. É a maior rede social do mundo, uma comunidade superior ao número de usuários de internet na China, que tem 420 milhões de pessoas. Confira no gráfico, a curva de crescimento da rede.
Nascida em 2003 a partir do projeto de Mark Zuckerberg, um estudante da Universidade de Harvard, o Facebook virou tema de estudos, teses e teorias. Uma das obras mais populares sobre o assunto, o livro The Facebook Effect: The Inside Story of the Company That is Connecting the World, de David Kirkpatrick, arrisca um palpite para explicar seu sucesso – argumento que, aliás, é defendido também por Zuckerberg: “Compartilhar informações e tornar a vida pública nos faz pessoas melhores”. Há quem discorde do jovem, hoje com 26 anos. No entanto, é certo que mais de 500 milhões de usuários da internet compartilham da opinião.
Sérgio Valente, presidente da agência DM9DDB, acrescentas mais razões para o sucesso – em especial no mercado dos Estados Unidos. Para ele, os americanos estão habituados a interagir, principalmente no meio acadêmico. A cultura da fraternidade, explica o executivo, impulsionou o Facebook, primeiro entre as universidades e colégios, depois entre o público que terminava sua graduação. “Eu mesmo entrei na rede há seis anos, enquanto estudava em Harvard. A minha turma decidiu montar um grupo no Facebook e todo mundo achou que seria interessante fazer parte da rede”.
Para Andre Deak, professor e diretor da empresa de estratégia de comunicação digital FLi Multimídia, os números impressionantes do Facebook sugerem que a internet é, de alguma forma, uma grande rede social. “As pessoas estão buscando notícias e tirando dúvidas nas redes, e isso pode ser uma tendência bastante significativa para o restante da web”, explica.
Fernando Taralli, presidente da Energy, agência do Grupo Newcomm, encontra na tecnologia o segredo do sucesso do Facebook. Para ele, a rede desenvolvida por Zuckerberg possui as melhores funcionalidades. Além de ser uma plataforma aberta, que pode ser usada como base para milhares de desenvolvedores em todo o mundo na criação de aplicativos e ferramentas, a rede foi amplamente distribuída em diferentes canais (sites, blogs) e ganhou uma versão para celular, que permite aos seus usuários conexão 24 horas por dia, sete dias por semana.
Brasil – Com números expressivos em várias partes do mundo, surge uma indagação: por que a rede de Zuckerberg ainda tem presença tímida no Brasil? Estimativas não oficiais apontam que 4,6 milhões de pessoas no país fazem parte da comunidade on-line, ante aproximadamente 50 milhões que estão interagindo pelo Orkut, o site de relacionamento mais popular do Brasil.
Deak aponta peculiaridades locais para explicar isso. “O Orkut já se tornou uma rede social consolidada no Brasil. É difícil agora esperar que as pessoas aprendam a usar outra rede, com novas regras e interface”, diz. “É uma situação parecida com a que acontece com o Windows: apesar de existirem softwares livres, os usuários foram ‘alfabetizados’ pelo sistema operacional da Microsoft e se sentem confortáveis com ele”.
Para Gil Giardelli, especialista em mídia digital, o Facebook não cresce no país por uma única razão: seu principal concorrente, o Orkut, foi responsável por um processo importante de inclusão social – e não digital. “As pessoas usam a rede como telefone, para se conectar, por meio dos scraps”, diz. “Além disso, os usuários publicam lá suas fotos e ficam com receio de migrar para outra rede e perder seus amigos”.
Já Valente acredita que o obstáculo é mesmo o formato da rede. “O Facebook surgiu para que grupos debatessem assuntos de interesse comum”, aposta. “Já o Orkut foi desenvolvido para que as pessoas se expusessem na rede e fizessem amigos, uma característica universal da nossa cultura”.