Perrone, você não tem aptidão difusa? E com vocês a Geração-Tudo-Junto-ao-mesmo-tempo-agora

Perrone, você não tem aptidão difusa? E com vocês a Geração-Tudo-Junto-ao-mesmo-tempo-agora

Roberto Perrone, é um grande jornalista, empreendedor e amigo! Algum tempo atrás pedi ele uma artigo sobre sua visão da “Sociedade Imediatista” para o e-zine da Permission Neste excelente artigo, ela fala dos Internet Boomers, Mobile Marketing, Gibis, Infância e a Internet! Imperdível!

“Quando eu era garoto – e lá se vão uns bons pares de anos – cursava o que na época se chamava de ginásio e atualmente é uma parte do ensino fundamental. Tinha meus 10, 12 anos e gostava muito de TV (ainda gosto, aliás) e de jogar futebol (também).

Jogava todos os dias, com a turma da rua, que era a mesma da escola e dos bailinhos de sábado na casa de alguém da rua. Ah, sim, também lia alguns livros, mas gostava mesmo é de gibis, principalmente todos dos super-heróis. Batman, Super-Homem, Capitão Marvel, os mais conhecidos. Alguém lembra de Elektron, o herói que se miniaturizava e que podia controlar seu peso como quisesse mesmo sendo muito pequeno?”

Saudades da Infância

Porém, ou eu lia ou assistia à TV, jamais pensava em consumir os dois ao mesmo tempo. Até mesmo porque, tempo era o que não faltava. Dessa época, nunca me esqueço de uma frase que um professor de artes – confesso não lembro o nome dele – invariavelmente proferia quando algum de nós da classe não conseguia prestar atenção no que ele estava explicando enquanto desenvolvíamos alguma atividade.

– “Vocês não têm aptidão difusa”, dizia.

E continuava comentando que essa tal de “aptidão difusa”, era mais coisa de mulher (nas aulas de artes, a classe era dividida em duas, de meninos e meninas. Claro, as meninas aprendiam a bordar, pintar panos, e os meninos a mexer em tornos, lixas e martelos). Não encontrei a expressão “aptidão difusa”, em dicionários ou em buscas na internet para ter uma definição exata, mas parece óbvio que o mestre simplesmente queria dizer que nós não éramos capazes de fazer duas ou mais coisas ao mesmo tempo.

Uma aptidão, seja ela qual for, pode ser desenvolvida. Porém, depende de série de fatores. Desde o fascínio que tem e a vontade com que o indivíduo se dedica a uma atividade aliada à facilidade que ele poderá ter para aprender, até todas as interferências do meio em que vive. De quando em quando me vem à mente essa expressão e ultimamente tem aparecido com mais freqüência. Já há algum tempo estamos presenciando uma verdadeira revolução no desenvolvimento da aptidão difusa de uma geração como nunca antes se poderia imaginar.

A revolução tecnológica e a internet têm tudo a ver com isso. A segunda edição do estudo Geração M, da Kaiser Foundation, realizado nos EUA, no ano passado, com pouco mais de duas mil crianças e adolescentes, com idade entre 8 e 18 anos, chegou a inúmeras conclusões sobre o comportamento de consumo de mídia dessa garotada. Mas uma constatação chama a atenção: os jovens norte-americanos consomem em média 8 horas e meia por dia de mídia (considerando todos os meios tradicionais – TV, rádio, jornal, revista – , livros e computador, que inclui navegação na internet, games e programas de mensagens instantâneas).

Bastante, né? Só que o curioso é que o tempo linear é de 6 horas e meia. Essas duas horas a mais são simplesmente de superposição. Ou seja, essa turma vê TV ao mesmo tempo em que navega na internet, conversa por mensagem instantânea e lê ou ouve música, que pode ser através de uma estação de rádio ou um CD. O quarto de uma criança de classe médiahoje em dia, mesmo aqui no Brasil, certamente tem TV, aparelho de som, computador e vídeo game, todos dispostos de forma que se possa consumi-los e controlá-los simultaneamente.


Isso tudo sem considerar ainda o celular, uma plataforma que já recebe e envia mensagens e conteúdos de vários formatos e é mais um canal a disputar esse espaço já superposto. E mais: a quantidade de informação enviada e consumida é absurdamente maior do que os velhos tempos. O ritmo é acelerado e deixa profissionais de marketing praticamente sem fôlego, porque quanto mais acessos têm aos meios, mais os jovens os consomem.

Que desafio maravilhoso esse de se comunicar com uma geração como essa que vem se formando. Para a Kaiser Foundation, é a Geração M, para mim, é a Geração do Tudo-Junto-Ao-Mesmo-Tempo-Agora. Cada vez mais antenada, cada vez mais arisca e consumidora voraz do novo, do inusitado, infiel quando parece seduzida e que no momento seguinte morre de novo de amores pela sua marca.

Os meios, a tecnologia já disponibiliza, a forma vai variar de acordo com as necessidades, as ondas e os modismos do momento e o desafio é como ganhar a atenção dessa gente que já é decisor de compra em muitos casos e será ainda mais amanhã. Previsões à parte, uma coisa é certa, não dá para ficar alheio à verdadeira revolução que está diante de nós.

Roberto Perrone
sócio-proprietário
Toda Palavra Editora