Poesia de um e-solitário

Poesia de um e-solitário

O iPod e o IPhone são os grandes ícones da sociedade imediatista e solitária. Este fenômeno está transformando as grandes megalópoles. O silêncio avança.

Poluição sonora, sirenes, algazarra, camelôs e atitudes viscerais estão desaparecendo. É estranho estar no meio de tanta gente e ouvir tão pouco.

Todos os dias, eu corro para esquecer os noticiários 24 horas, discursos e entrevistas sem pé nem cabeça, escândalos dos das vacas de Renan e comoções mundiais instantâneas.

Ligo meu Ipod, escolho uma trilha sonora que condiz com a vibração da minha alma, e corro, corro e corro. No meu próprio mundo musical, no ritmo da minha trilha sonora, esqueço o mundo ao meu redor.

Em um domingo ensolarado, corri ao som de “Nos barracos da cidade” de Gilberto Gil, comecei pelo opulente Colégio Caetano de Campos, cruzei a Onipotente Catedral da Sé, a charmosa casa da Baronesa de Santos, a simplicidade do Páteo do Colégio, as cores do Viaduto do Chá e a Grandiosidade do Teatro Municipal. Percebi a dualidade de São Paulo. Rica e miserável, bela e feia, acolhedora e assustadora.

Sou da Tribo dos Fios Brancos da música. O universo na bolha. Como todo vício, existe o lado ruim, nossos olhares são um tanto vagos. As pessoas se deslocam pelo tecido social como se estivesse no piloto automático, são viajantes robotizados programados para não questionar, não falar, não ouvir. Apenas sintonizar.

Dividimos a música em partículas como a vida contemporânea. Tornamos a música secreta. Antes era um encontro social.

Entro no carro, plugo meu iPod no rádio e continuo ouvindo a mesma música que escutava no laptop. Em casa, ligo o aparelho no meu som digital como em um filme e tenho a minha própria trilha sonora, 24 horas por dia.

Quando estamos com nossos fios brancos, perdemos nossa memória.

Esquecemos das pequenas delicadezas sociais, quando outros dizem “Desculpe-me” não há resposta.

Amanhã, vou deixar meu iPod em casa, vou escutar o cantos dos pássaros, vou escutar a histeria dos camelôs no centro da cidade, a poesia da ruas e o burburinho no escritório, deixarei minha mente vagar sem destino pelos ruídos comuns dos bastidores da vida humana.

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