Assista, esta peça, leia o livro e o blog e abaixo acompanhe uma história de como a blogosfera pode fazer um mundo mais democrático.
A peça Salmo 91, em cartaz em São Paulo. Que é baseada no livro Estação Carandiru, de Drauzio Varela, e fala do massacre de 111 presos comandado em 1992 pelo coronel Ubiratan Guimarães.
Karina havia postado em vários Blogs na Internet uma acusação contra a peça SALMO 91 dizendo que a peça era uma apologia ao crime e pedindo providências a sociedade. Sem ter visto a peça!
Karina foi convidada democraticamente para assistir ao espetáculo, sentou-se na primeira fileira do teatro.
Ao final, o ator PASCOAL DA CONCEIÇÃO se dirigiu ao proscênio:
Peço desculpas a todos, mas interrompo para fazer um comunicado.
Nós temos um blog da peça e esta semana recebemos algumas manifestações exaltadas contra o espetáculo, todas anônimas, mas uma delas, da senhora Karina Florido Rodrigues que se identificou como assessora do Deputado Coronel Ubiratan Guimarães na Assembléia Legislativa de São Paulo. E que escreveu acusando autor, ator e atores de estarem fazendo apologia ao crime, etá aqui na platéia e pediu à gerência do SESC o direito de se manifestar e nós da peça, resolvemos que como espaço democrático, o teatro assegura a todos o direito de livre manifestação.
Houve uma surpresa geral e imediatamente um senhor da primeira fila gritou:
– Cento e onze é um número cabalístico. Deviam morrer cento e onze mil.
Na seqüência, o senhor careca, uniformizado com colete de caveira, sentou-se na beira do palco, dirigindo-se à platéia:
– Alguém aqui teve um parente assassinado por esses criminosos?
Um espectador respondeu:
– Eu tive sim, meu pai foi assassinado. Mas não é por isso que eu vou sair por ai defendendo a pena de morte pra todo mundo.
O skinred fez-se de surdo.
– Eu vou sair daqui com a mesma dúvida com que entrei: quando vocês riram e aplaudiram, vocês aplaudiram os atores ou os criminosos?
A senhora Karina disse que esse acontecimento, o massacre do Carandiru, tinha sido um confronto e que ela, que conhecera e convivera com o capitão Ubiratan sabia que ele sim era um defensor dos direitos humanos.
Nesse momento, 80% da platéia se levantou e saiu.
– Por que é que vocês não fazem peças falando do lado da polícia?
Os que ficaram ouviram a jornalista e pesquisadora Marta Góes retrucar:
Então escrevam, produzam e façam a sua peça!
O clima foi o tempo todo vitorioso do lado da democracia e da liberdade de expressão.