Democracia indexada e ditadura digital

Democracia indexada e ditadura digital

A internet prometia criar uma revolução digital que iria destruir as ditaduras, trazendo transparência às relações entre países pobres e ricos.

Em 1999, colunista do New York Times, Thomas Friedman, formulou a teoria de que a internet libertaria os oprimidos. Provavelmente ele tinha como exemplo a derrocada do consumismo, que começou com a divulgação na mídia mundial das chagas do sonho vermelho o qual, ao contrário do que pregava, era injusto e utópico.

Ele acreditava que com o advento das antenas parabólicas e da internet qualquer cidadão do mundo poderia ver, ouvir e observar qualquer muro físico. Que essa onda varreria qualquer regime que não fosse transparente e democrático; que, enfim, Cuba e China teriam uma imprensa livre.

Bom e o mal da Internet323d-shiva-destroyer-b.jpg

O Manifesto Cluetrain afirma, que a interneté um lugar em que pessoas podiam falar com outras sem constrangimentos, censuras ou sanções oficiais. Foi feita para entregar-se à curiosidade, ao debate, à discordância, para rir de si mesmo, comparar visões, aprender, criar uma nova arte, enfim, para gerar novos conhecimentos.

O Yahoo!, destruiu esse sonho. Em abril, Shi Tao, jornalista chinês, foi sentenciado a dez anos de prisão, acusado de “Divulgar segredos de estado a entidades estrangeiras”. Ele escreveu sobre uma decisão do governo chinês para o site Democracy News, utilizando anonimamente uma conta de e-mail do Yahoo!. Porém, a polícia foi direto ao seu escritório e o prendeu.

O Grupo Repórter sem Fronteiras trabalhou arduamente para responder a pergunta: “Como o descobriram?”. Para espanto do mundo digital, a conta de Tao foi fornecida pela holding Yahoo!.

A empresa defendeu-se dizendo que em 2002 assinou um acordo de “auto-regulamentação” do governo chinês, prevendo a censura das palavras “democracia”, “liberdade” ou qualquer palavra perniciosa e perigosa a segurança da China – qualquer manifesto contra a sanguinária ditadura chinesa será considerado crime.

Em um ato demagógico o Yahoo! optou por favorecer a liberdade em alguns lugares e controlá-la em outros, tudo singelamente regido sob as melodias musicais dos interesses comerciais. O sonho de que a internet derrubaria as ditaduras e integraria o mundo em uma grande onda de ajuda mútua e transparente acabou.

A democracia é filtrada e controlada. Sobraram as dúvidas. Será que o mundo.com é uma terra de imenso silêncio que faz muito barulho? Que é célere e entrevado? Que não separa sua tristeza de sua alegria? Ou que a internet é pesada e rude, sem alma nem virtude e, no entanto, um esplendor, um dos lugares mais mágicos de nossa época?

As grandes paixões se nutrem de tristeza, os amores que dão certo são tempestades apocalípticas. O sonho e a paixão de dois brilhantes estudantes da Universidade de Stanford, que criaram o Yahoo! em um trailer para ajudar o mundo a se conectar, foram enterrados.
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