Confesso toda vez que volto de ferias deste vilarejo, volto leve! Resgatei este artigo que escrevi ha 4 anos, para a coluna Mundo.com do Jornal Propaganda e Marketing! Leia este artigo sem os olhos da web 2.0! Um artigo de uma outra fase da Internet! Bom Voyage!

Internet e Trancoso – Janeiro de 2004

 Escrevo essa coluna das minhas férias em Trancoso, na Bahia. Ela será como um diário de percepções e de viagens, um paralelo entre a internet e Trancoso.

Ambas misturam tudo e absorvem influencias, vindas de qualquer lugar do mundo: gente, coisas, costumes e pensamentos. Vindos de longe ou sendo daqui. Tudo misturado! Ambos não são contrastes. Tudo se interpenetra se funde se disfarça e volta à tona sob os aspectos mais diversos, sendo duas ou mais coisas ao mesmo tempo, tendo outro significado.

Trancoso é provavelmente o povoado mais charmoso e colorido do Brasil, é uma pérola no Sul da Bahia, fundada em 1586, vilarejo que até 1982 não passava de uma aldeia de 70 casinhas. Hoje, uma cidade contemporânea sob o signo do digital, basta olhar a sua volta para constatarmos celulares, palms, TV a cabo, internet de banda larga, cartões inteligentes e wireless! Ah! Existem duas igrejas, e seis mil habitantes e duas internet cafés.

A internet completará dez anos de uso comercial este ano e costumo chamá-la de uma pré-adolescente, antenada, namoradeira, desinibida, democrática e solidaria.

Nos internet cafés em Trancoso, salas quentes e sufocantes, encontrei pessoas de mais de 50 países, vivenciei que a internet emitia informação e era meu instrumentoda memória aquém do espaço e do tempo, a abolição do espaço físico-geográfico!

Do Sul da Bahia, mergulhei diretamente no relato dos sobreviventes da tragédia do tsunami da Ásia em seus webblogs, lia as cartas de apoios aos sobreviventes, acompanhei os relatos minuciosos, com tudo registrado, dia-a-dia, hora, minuto a minuto, com o imediatismo do tempo real, por meio de torrentes de palavras que de maneira instantânea aparecem nas telas de todos os cantos do planeta – com fotos e imagens de vídeo.

O velho costume de anotar toda minúcia cotidiana em um caderninho de folhas amareladas como fazia Baudelaire e Jorge Amado agora são transferidas para os meios digitais, expostas a milhões de olhos!

Percebi o lado dos humanos da internet, para os que sabem e querem olhar, nas diversas manifestações da cibercultura. A internet ajudou a organizarmos doações para os desabrigados após a passagem das ondas gigantes pela Ásia, ajudou o garotinho Karl Nilsson, da Suécia, a encontrar seus parentes após ter sua foto divulgada na internet, onde segurava o cartaz no qual se lê “pais e dois irmãos perdidos”.

Ajudou Trancoso a ser mais letrada, inserindo 90% de seus jovens e adolescentes no programa de inclusão digital, liderado por um italiano que hoje vive na Vila, proporcionou o nomadismo radical levando pessoas de mais de 50 países a escolher Trancoso como sua morada e sem perder contato com o mundo, a internet foi a principal ferramenta de captação de recursos para restauração das igrejas e das casas seculares da cidade. A internet no apresentou ao mundo esse paraíso chamado Trancoso!

A internet colocou em xeque varias certezas que o passado tinha consolidado. A economia, a política, a cultura, as relações sócias ajustam-se às novas dimensões do “mundo.com”. Fica a dúvida! Que tipo de sociedade emergiu com as tecnologias digitas, o que aconteceu com o trabalho, com a educação, enfim com a vida cotidiana?

A minha resposta é: a internet nos tornou cidadãos do mundo, a internet fundou a solidariedade virtual e a democracia digital, a internet engajou todo o problema no projeto do “bem comum”

A internet é como esta vila baiana, onde pessoas do mundo inteiro se encontram, um local de nômades, “aqueles que em nenhum lugar estão em casa e os que estão em casa em qualquer lugar graças a internet!”

Ao pé de uma jaqueira em Trancoso, um nativo me disse: “Há muita confusão aqui, senhor. Mas é gostoso.”

E eu concluo: assim é a internet.

Desejo aos leitores muita paz, saúde e energia em 2009!