Filhos do ciberespaço: velhos de 20 anos

Filhos do ciberespaço: velhos de 20 anos

Ser jovem, inovador, ultrapassado, antigo ou velho na era digital. Não tem nada a ver com a idade biológica, e sim com a forma como você enxerga e entender as mudanças.  Em um mundo em transformações ultra-sônicas, como harmonizar o choque das gerações? Como bem disse Brad Stone no artigo abaixo “Uma consequência óbvia é que as gerações mais jovens terão expectativas muito peculiares e únicas em relação ao mundo”Quais serão estás expectativas! Estes dias na ESPM, convidei Gabriel Jacob epara palestrar no inovadores e ele disse “As grandes mudanças do século estão baseadas em duas premissas Tecnologia e mudanças climáticas” Vale lembrar que Gabriel Jacob é um ser genial dos webnatives, aquelas geração que já nasceu clicando! Leia o texto e conclua! qual sua conclusão?

Filhos do ciberespaço: velhos de 20 anos

Brad Stone colunista do NYTimes escreveu “Filhos do ciberespaço: velhos de 20 anos”, artigo traduzido e publicado primeiramente no Brasil pelo Jornal  O Estado de São Paulo – Por essas e outras sou assinante do Jornal 😉

“Minha filha de 2 anos me surpreendeu recentemente com três palavras: “Livro do papai”, disse ela, segurando meu leitor eletrônico Kindle. É uma criança que mal começa a falar e mostra que as sementes do próximo hiato entre gerações já foram plantadas. Ela identificou o Kindle como um substituto das palavras impressas em páginas físicas.

Tenho esse aparelho, mas ainda não me acostumei completamente com o conceito que ele exprime.

A visão de mundo e a vida da minha filha serão moldadas de forma totalmente deliberada por tecnologias como o Kindle e os novos aparelhos mágicos de alta tecnologia que serão lançados este ano – entre eles, o telefone Nexus One da Google e o Tablet da Apple. Ela não conhecerá outro mundo senão o dos livros digitais, dos bate-papos pelo Skype com parentes distantes e dos videogames para crianças no iPhone. Verá o mundo de uma maneira muito diferente da dos seus pais.

Mas esses são instrumentos tecnológicos que até mesmo crianças dez anos mais velhas não conheciam até pouco tempo atrás, e comecei a pensar que a geração da minha filha também será extremamente diferente da que a antecedeu.

Os pesquisadores também estão explorando esse conceito. Eles teorizam que o ritmo cada vez mais acelerado das mudanças tecnológicas pode estar criando uma série de hiatos entre minigerações, em que cada grupo de crianças será influenciado pelos instrumentos tecnológicos disponíveis nas fases de formação do seu desenvolvimento.

“As pessoas também, com três ou quatro anos de diferença, estão tendo experiências completamente diferentes em matéria de tecnologia”, disse Lee Rainie, diretor do Internet and American Life Project do Centro de Pesquisa Pew. “Estudantes universitários coçam a cabeça diante do que seus irmãozinhos do ensino fundamental estão fazendo. Isso acelerou as diferenças entre as gerações”, afirma.

Uma consequência óbvia é que as gerações mais jovens terão expectativas muito peculiares e únicas em relação ao mundo. A filha de 3 anos de um amigo meu, por exemplo, acostumou-se tanto com a tela multitoque do iPhone do pai que ela passa os dedos na tela do laptop à espera de uma reação.

Quando minha sobrinha de 4 anos ganhou o hamster Zhu-Zhu de presente no Natal, eu falei que o brinquedo não passava de um robô, capaz de evitar alguns obstáculos. E ela retrucou secamente: “Não é um robô. É um bichinho.”

Estes hiatos entre minigerações são mais visíveis nas escolhas em matéria de comunicação e entretenimento feitas por diferentes grupos etários. Segundo uma pesquisa feita no ano passado pela Pew, os adolescentes tendem a enviar mensagens instantâneas mais que os jovens de pouco mais de 20 anos (68% contra 59%) e a jogar games online (78% contra 50%).

Larry Rosen, professor de psicologia na Universidade Estadual da Califórnia, autor do livro Rewired: Understanding the iGeneration and the Way They Learn (Reconectados: para Compreender a iGeração e o Modo como Aprende), a sair em breve, também distingue o que ele chama de “geração Net”, nascida nos anos 80, e a iGeração, nascida nos 90 e 00. Agora na casa dos 20 anos, os Nets passam duas horas por dia falando ao telefone e ainda usam e-mail com frequência. A iGeração passa muito mais tempo escrevendo que ao telefone, presta menos atenção à televisão que o grupo mais velho e tende a se comunicar mais em redes de mensagens instantâneas.

Rosen disse que as gerações mais novas esperam uma resposta instantânea de todos aqueles com que se comunicam e não têm mais paciência para nada menos que isso. “Eles querem que seus professores respondam imediatamente e esperam ter acesso instantâneo a todos porque, afinal, é a experiência com a qual estão crescendo. Deveriam ser como os irmãos mais velhos, mas não são.”

O boom dos mundos virtuais voltados para crianças e jogos online como Club Penguin e Moshi Monsters intrigam Mizuko Ito, antropóloga cultural e pesquisadora assistente do Instituto de Pesquisa em Ciências Humanas da Universidade da Califórnia. Ela diz que as crianças que brincam com esses jogos farão menos distinção entre seus amigos online e os de carne e osso; a socialização virtual poderá proporcionar tanta satisfação quanto uma confraternização nas noites de sexta-feira. E elas provavelmente participarão mais ativamente de seus próprios entretenimentos, clicando o teclado em vez de se recostar no sofá.

Isso lhes dará potencial para serem mais criativos que as gerações mais velhas – e talvez torná-los um alvo mais difícil para os marqueteiros da indústria. “Certamente não é mais verdade que as crianças consomem cegamente o que a cultura comercial tem a oferecer”, diz Ito.

GERAÇÃO MULTITAREFA

Outro hiato entre gerações, como muitos pais modernos bem sabem, mostra que crianças mais novas tendem a ser mais capazes de realizar habilmente várias tarefas ao mesmo tempo. Estudos realizados por Rosen na Cal State mostram que jovens de 16 a 18 anos realizam sete tarefas, em média, em seu tempo livre – como escrever mensagens de texto pelo telefone, enviar mensagens instantâneas e verificar o Facebook, enquanto estão sentados diante da televisão. As pessoas com pouco mais de 20 anos só conseguem realizar seis, constatou o Rosen, e os que têm mais de 30, cerca de cinco e meia.

Essa versatilidade é fantástica quando estão matando o tempo, mas será que uma geração mais nova conseguirá se concentrar na escola e trabalhar como os mais velhos? “Temo que os jovens não sejam capazes de desenvolver a capacidade de atenção e concentração quando isso for necessário”, diz Vicky Rideout, vice-presidente da Kaiser Family Foundation, que divulgará neste mês uma pesquisa abrangente sobre tecnologia e hábitos de crianças e adolescentes em matéria de mídia.

As crianças da idade da minha filha muito provavelmente terão também noções menos rigorosas de privacidade. A ideia de um telefone ou de qualquer outro aparelho que está persistentemente consciente de sua localização e grita suas coordenadas geográficas, mesmo que apenas para os amigos, deve ser visto como algo sinistro pelos grupos de idade maior.

Mas a mais nova safra de usuários da internet e de proprietários de celulares achará esses instrumentos geointeligentes uma segunda natureza e poderá até esperar que todo o software e o hardware venham a operar dessa maneira.

E é a essa altura que as corporações começam a esfregar as mãos. Minha filha e seus coleguinhas nunca estarão “desconectados”. E talvez esperem que as lojas promovam descontos sempre que passarem por elas. Talvez esperem poder seguir seus amigos em toda parte.

“Quando é alguma coisa com a qual você cresceu, ela lhe proporcionará um conforto completamente diferente do que no caso de uma pessoa que teve de desaprender algo a respeito do mundo”, disse Rainie.

Ainda não se sabe ao certo se essas disparidades entre grupos adjacentes de crianças e adolescentes simplesmente desaparecerão à medida que os grupos mais velhos aprenderem a usar os novos instrumentos de tecnologia ou se aumentarão e se tornarão mais profundas entre várias gerações.

Mas as crianças, os adolescentes e os jovens adultos que estão convivendo com essa enorme mudança tecnológica também terão muito em comum. Não acharão minimamente estranho compartilhar os detalhes de sua vida privada online, conectados com seus amigos o tempo todo, comprando produtos virtuais e ter o super-aparelho que faz tudo isso.

Eles acreditarão que o Kindle é a mesma coisa que um livro. E todos acharão que seus pais estão definitiva e completamente por fora.”

*Ilustração do artista Archaan – homenagem ao amigo Alex Braga

Foto elefante na cidade de Idesaram