Texto publicado 1º no sensacional blog Fisica Fácil
Sherlock Holmes, no excelente “Estudo em Vermelho” de Sir Arthur Conan Doyle, é o autor de um artigo onde defende que “A partir de uma gota de água, um pensador lógico poderá inferir a possibilidade de um Atlântico ou de uma Niágara, sem ter jamais visto um ou outro ou, sequer, ouvido falar a respeito. Assim, a vida é uma grande cadeia, cuja natureza pode ser depreendida a partir do simples confronto com um de seus elos….”. Do mesmo modo conseguimos inferir um Atlântico, tendo como ponto de partida a palestra de Gil Giardelli “Tudo que é sólido, desmancha na rede” a qual ele abre, com inteligência e premonição, usando a sentença que parafrasea Karl Marx: “Tudo que é sólido, desmancha no ar.
A correlação que se faz entre o “desmanchar do sólido” e a gota que nos leva ao Atlântico vem da comparação que fazemos entre o Modelo de Einstein para um material sólido e o modelo equivalente para uma substância líquida. Na fase sólida (modelo de Sólido de Einstein) massas (átomos) vibram como se estivessem presas a molas (forças eletromagnéticas) numa correlação rígida em que cada ponto dessa “rede primária” possui um limitado número de primeiros vizinhos fixos (6 no caso de um sólido de estrutura cúbica – Figura 1)
Quando Giardelli compara a Web com a “dissolução de um sólido” salta-nos aos olhos o processo de fusão e por consequência o modelo que a física utiliza para descrever a fase líquida (daí a gota de Sherlock Holmes): Cada nó dessa nova rede (seja ele um átomo ou molécula do líquido ou um internauta) se relaciona com diversos primeiros vizinhos e o mais importante: de modo dinâmico sem manter elos fixos (forças de Van der Walls), podendo assim fluir e manter contato permanente com primeiros, segundos, terceiros… vizinhos permanentemente em movimento (figura 2).
Muito além do Atlântico podemos especular e também encontrar ”new trends” da Web, se continuarmos estendendo este modelo para os outros estados da matéria: à medida que se aumenta a entropia do sistema (interações ainda mais rápidas, amplas e flexíveis, consequentes do aquecimento do sistema – ou máquinas mais nervosas?), atige-se o próximo estado: a fase vapor. O “Modelo Giardelli” se confirma uma vez mais já que podemos traçar agora um paralelo com a “computação nas nuvens”, nome aliás muito apropriado já que as gotículas existentes em uma nuvem (na fase de vapor) interagem de modo ainda mais integrado -exatamente como no “cloud computing” onde se incrementa a agilidade do sistema (aumento da entropia) pela integração/delocalização de diversos recursos como memória, aplicativos etc… Um adeus ao medo de perder os dados ou ter que converter todos os arquivos para novas midias a cada 2-3 anos: cartão-perfurado>discão de 8″>disco 5″1/4>diskete 3,5″>zip-drive>CD-R>CD-RW>DVD>pen-drive… podemos jogar tudo fora!!! é onde estamos agora, a fase vapor – ou melhor, nuvem.
Acima desse estado da matéria (e da arte) passamos para a fase gasosa, ainda por aparecer na web -não confundir gas com vapor. Nessa fase cada unidade (átomo/molécula/internauta?) tem total autonomia, altíssima velocidade, interação complexa e mais livre com seus vizinhos de diversas ordens de proximidade, e consegue atingir todo o espaço que lhe é disponibilizado (o seu universo): Em outras palavras, o gás ocupa todo o volume que o contém. Isto leva o gás a determinar -estatisticamente- todas as propriedades macroscópicas do sistema.
Mas a Física não para por aí. O estado seguinte é o plasma: um gás de íons de altíssima energia cujos elementos estão desprovidos das camadas eletrônicas externas. É uma substância altamente interativa, de entropia fantástica, que encontramos na ionosfera: ela tem a habilidade de atuar ressonantemente – emitindo/refletindo/refratando radiações eletromagnéticas – e em mantendo a analogia, é exatamente no modelo da ionosfera que está o futuro da Web. Aposto.